Gosto de comparar os vírus aos cachorros. Todo cachorro morde, mas algumas raças costumam se comportar de forma mais agressiva e dar mordidas mais fortes, enquanto outras raças costumam ser bem mansas e dificilmente atacam. Mesmo nas raças cuja fama é de agressividade, há cães que podem se comportar de forma bem mansa assim como há cães com fama de mansos que se comportam de forma bem agressiva. Muitas vezes não há como saber como o cão se comportará.
Com os vírus ocorre o mesmo. Há várias “raças” de vírus. E, numa mesma “raça” de vírus, há vários subtipos (tecnicamente chamamos de vários sorotipos). Existem “raças” de vírus respiratórios (como os rinovírus e os adenovírus) que dificilmente causam algo além de um “resfriado ou gripezinha”. Mas há “raças de vírus” respiratórios, como o do sarampo, que apresentam uma chance bem maior de a inflamação chegar até os pulmões.
Os vírus da “raça” influenza, por sua vez, possuem tanto subtipos que dão gripes bem brandas como têm subtipos cuja fama é de causar doenças graves, como o influenza H1N1.
Do mesmo modo, os vírus da “raça” coronavírus têm vários subtipos, desde aqueles tipos mais antigos, que sempre estiveram dentre as causas de gripes e resfriados, como há os tipos mais recentemente descobertos, como o MERS-Cov e o Sars-Cov-2, causadores respectivamente de epidemias de pneumonias graves no Oriente Médio e da pandemia de COVID-19 que se disseminou da China para o mundo desde dezembro de 2019.
Então, do mesmo jeito que há infinitas raças de cães, que vêm se adaptando e adquirindo características peculiares ao longo de anos de convivência com a raça humana, há inúmeras raças de vírus que, a todo momento, estão se modificando e se adaptando para infectar diferentes espécies, inclusive humanos.
Às vezes a adaptação torna o vírus menos letal ou até incapaz de infectar humanos. Noutras vezes, ocorre o oposto: um vírus simples pode se tornar uma ameaça altamente potente e especializada em infectar o organismo humano.